quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Nós passarinho

Você me falava, me alertava. A tonalidade escurecida incomoda muitas vezes e piora se mais retinta. Que nem de palavra precisa, os olhares nos atravessam. Só a gente sabe, dessa coisa de ser pouco aos olhos dos que seguem sendo a regra e excluindo. É cansativo ter que provar sempre a capacidade, ver surpresa na cara de quem nunca acreditou na força das nossas asas. Só podemos ir até a linha imposta por quem sempre segurou as amarras. Mas aí eu vi um menino preto pequeno brincando e eu vou preparando o terreno pra ele. Cada passo uma luta, insistência. Vale, já tá valendo. Esse menino aí que vontade de protegê-lo do que ele ainda não conhece. Mas menino negro já nasce resistindo, lembrei. Porque esse mundo também é dele. Esse mundo também é nosso!

terça-feira, 6 de junho de 2017

Oração

Vai se preparando que algo de bonito tá vindo. Deixa disso de se preocupar com o que foi, de querer saber de tudo agora. Grandes mistérios te esperam. Não duvida mais! Vai fazendo o seu devagarinho. Vai tecendo silencioso a sua revolução. Que algo de bonito tá vindo. Tá vendo? Algumas pessoas te querem bem, outras não sei. Mas não importa. Mal nenhum se aproxima. Nada de negativo te alcança. Não tem desvio na sua direção. Vai ganhando força. Vai sorrindo grande e vivendo bem. Amém.

domingo, 16 de abril de 2017

Divag(ações)

o tempo das coisas como reconhecê-lo imenso caindo nos ombros passando curando doendo tempo misterioso indo em uma só direção embora desbravando caminhos vários que medo e estranha alegria em que tempo não serei mais jovem quem dita tal regra quem diz que não é observo contemplo admiro a juventude ensolarada tentando lembrar quando a perdi e de repente te sinto tão forte em mim tudo é vida no despertar do poeta e medo de acabar os outros no caminhar dos meninos não existe o peso que vem comigo talvez já fui.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Arc-en-ciel

Ah, meu amigo, é tão triste. Sinto que terei que me acostumar com a sua ausência. Afinal, porque sou eu sempre ouvidos, quando também preciso de carinho? Porque sou eu sempre a forte quando também me pesa a vida? Acho que tinha que ser de estender as mãos e em silêncio compreender e respeitar a necessidade do outro. Sim. Tinha que ter sensibilidade e perceber o chamado tímido de quem precisa do que merece depois de tantos carnavais juntos. Se me sinto só na tempestade, aproveitarei sozinha o intenso arco-íris. Ele tá vindo. Acho que isso é amadurecer e se amar. Com o que sobrar das mágoas todas,  prepararei poemas lindos. Porque dessa vez, não serei eu a culpada. Fique se quiser, mas só se for para fazer bem. 

Garoa


Hoje acordei pensei : preciso escrever pra Sampa. Já faz tempo que não escrevo nada - nenhuma linha - mas penso muito, sinto muito e não há caneta que acompanhe esse encadeamento caótico. Acho que é isso mesmo São Paulo. Quem vê de fora não entende pensa que é muito concreto e barulho, dizem não ter mar. Quem se importa? Em São Paulo o mundo todo vive e morre. Todo mundo chora e ama. Exageradamente. Sem limites. Haja coragem! Aqui de longe São Paulo é alívio. É canção de ninar, abraço de mãe, primeiros amores, melhores amigos. Quero te ver sempre assim talvez não a mais bonita, mas a mais apaixonante. Aquela que desperta à noite. Quero te ver bem! Hoje brindarei em sua homenagem, Sampa boêmia. Porque não há melhor maneira de te ter viva em mim.

sábado, 5 de novembro de 2016

Barulhinho bom

Ecoa você no que me tornei.

Respinga ainda o tambor de casablanca, a vitrola de beltrão, alguns acordes da guitarra vermelha de sonoridade amiga. Rio imaginando quantas vezes ainda lembrarei de tudo que amei, de tudo que doeu. Quantas vezes esmiuçando passados, resolverei mistérios do que talvez nunca foi. Eu lembro de tudo, às vezes toca aquela música e sorrio sozinho, lembro das suas cores e dos nossos encontros. Você continua aqui, mas em pretérito recorte. Então, se for naquele cenário, te deixo ficar. Que de todas as coisas desgostosas já estou abrindo mão, abrindo espaço no coração pra viver melhor. Há grande beleza nisso de ficar sendo parte do outro, de habitar desarmado memórias.

É tudo que resta de mais bonito do fim.

domingo, 15 de maio de 2016

Manifesto

Do ódio, eu poderia falar muito. Dessa hiprocrisia cega e démodée, do barulho das panelas sujas de ambição, dos homens que sonham pequeno e tomam direitos e roubam e riem. Mas eu gosto muito da cor de quando a gente fecha olho de cara pro sol, é um quase laranja e é sempre quente a sensação, é de paz. Eu também gosto de criança começando a andar e dos reencontros com amigos antigos. Das trocas de energias boas dos abraços, e dos beijos. Do prazer do toque. Também do olhar dos animais, dessa sabedoria sem palavras. Às vezes é melhor calar. Gosto muito da rebeldia dos adolescentes, nunca sem causa. E adoro a incansável cor vermelha que se derrama em luta e que resistirá.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

(A)ventura

Ando tentando esquecer o gosto da pitanga laranja sol se pondo de quando eu era pequena menina com as outras duas pequeninas correndo junto, sempre fomos assim. Eu sei, não deveria ter pensamento constante no que não é mais. Será medo do desconhecido talvez, do que não sei que está vindo. Será medo talvez do tempo passando não sei se estou aproveitando, não sei. Por isso me pego me apegando mais nos dias na rua, mamãe tá chamando, papai tá chegando, trouxe alguma coisa doce? Hoje sei, sempre trouxe. Hoje sei da doçura da presença. Do acaso gentil dos melhores encontros. Juntar todas essas lembranças em um só lugar aqui dentro, todos os gostos do passado tão presente, será isso já o futuro? Vivendo cada momento degustando as delícias de uma vida tecida suavemente e ir deixando o tal medo perdido sob isso tudo. Esse pode ser o meu mais belo porvir.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Intraduzível

Mesmo se eu acordo bonjour,
eu chego salut,
eu vou revoir.
Mesmo se meu primeiro
eu te amo,
je t'aime.
Ainda assim, é na minha
língua que eu sonho.
No popular que eu canto.
Mesmo se o rio é claro,
o ônibus na hora.
O chão limpo,
as pessoas discretas.
Tenho vontade de carnaval.
Que são dos versos de lá
que eu lembro.
A garoa melancólica,
o gosto da cerveja no bar,
um beijo e um abraço.
Minha reza não tem rótulo,
meu sofrimento não é comedido,
meu riso não tem hora
e o melhor de mim é ser de lá.
O que eu sinto é a intraduzível
saudade
e sinto muito.

sábado, 18 de abril de 2015

Fluxo de consciência

Mesmo que eu pudesse, não deixaria de amar você.
Existe um espécie de derramamento anímico, uma
enxurrada mesmo. Nuvem cinza fabricando azul.
Curiosidade livre, crua, agridoce. Eu acho que te
reconheço, te conhecia de outros carnavais, sabe
essa impressão? De como se a gente tivesse se
revendo. É de um medo genuíno e constante de
perda. A outra metade é felicidade surpreendendo
a cada dia, que se fosse uma pessoa, estaria sempre
com um sorriso daqueles que fecham mais os olhos
do que abrem a boca, sabe? Então... Acho que é isso.