quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Malandro

Eu não quero gastar meu latim , mas me perguntaram o que é samba e não resisti. " O samba é o que dá pra carregar, ué. " Eu disse. Se faz com pouco. O batuque no fósforo acende o fogarel da rapaziada. Ah o pagode! Falo do pagode, a roda, não o moderno, banalizado... A saudade da roda é o que me mata. Para ser samba puro, não basta nariz escuro, ausência de queixo ou muita ciência. Não basta ser vila, viola, cuíca ou cavaquinho. Para ser samba todo, tem que decifrar a poesia do boemio torto. Tem que entender a malícia do olhar pequeno. Tem que tirar do velho chapéu a poeira da mocidade alegre. Tem que ser nostálgico e tem que ser sorriso. Sim, tem que ser feliz! Enfim, o verdadeiro sambista, meu amigo, sabe que a tristeza é bonita porque dá samba no fim.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Testemunha ocular.

Aqui em cima do muro , é seguro. Juro! Do romance que eu criei, da minha obra prima, só tenho uma testemunha. E foram os olhares que se encontraram . Autonômos. E eu deixei. O que mais iria querer, além daqueles olhos? Eu forçava o acaso para descobrir alguma novidade. E me contentava com as pequenas descobertas diárias. Os olhares constantes tinham um trato, tinha que ser de longe. As oportunidades perdidas e a indiferença aparente, eram truques para aumentar a expectativa do desfecho. O desfecho? Emocionante! Surgiu alguém para o outro. E eu cansei. De amor platônico não se brinca sozinho, não tem graça. Os olhares são ainda amigos, mas estão conformados. Coitados! E eu já não quero apenas olhares, quero palavras, gestos...
Afinal para que faça sentido, há de existir todos os sentidos. Não?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Próxima estação.

Em pé, ao lado do banco, pensando na combinação engraçada entre as cores marrom e azul. É, estava no metrô. E ela entrou, uma menina pequena. Ia pedir dinheiro. Na cabecinha um cabelo desarrumado, que não pedia um pente , pedia um cafuné. Parecia fazer de seu trabalho sua diversão. E era. Quando eu era pequena, era realmente uma diversão essa máquina gigante , porque era raro, claro. Andar de metrô para mim, era qualquer coisa de legal, qualquer coisa de brincadeira. Mas aquela menina me incomodava. Que diversão existia em entregar balas baratas e um papel que ela nem entendia o que estava escrito? Eu não entendia, mas sofria. Discretamente. A minha diversão seria conseguir, naquele momento, ser a pior cega. A menina sentou no banco azul. Ironia. Parecia estar cansada de sua diversão. Ironia. As moedas em sua mãozinha pesavam. Ironia. Eu desço na Praça da árvore e ela desce quando todas as balinhas acabarem. Ironia.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Apaixonado por Letras

É, eu me apaixonei uma vez e foi efêmero , muito mesmo. Explico. Era um bar e era noite. Confesso que tinha bebido como sempre faço , nada estava diferente. E para mim até as pessoas estavam iguais como eu não queria acreditar que elas realmente fossem. De repente alguém derrubou meu copo e alguém do sexo feminino, logo era a chance de fazer qualquer teatro para ver se terminava a noite acompanhado. Fiz e muito bem, modéstia à parte.Tudo estava tranqüilo, até ela dizer que era estudante de Letras. E eu já não era mais falante da minha língua. Deixei que ela falasse , falou e muito. E me apaixonei, não sei se por ela ou por seu discurso, quase didático, eu diria. Tudo era bem explicadinho e bonito. E eu como um bom ouvinte , parecia que só entendia aquela língua, mas falar nunca! Queria ouvir e queria que fosse eterno. Ela se deliciava com seu português e eu me deliciava com a idéia de que existem mulheres que falam muito , dizendo pouco. Me animei! Aquele era meu idílio, minha Letras. Nos despedimos e só. Sai letrariado...

ºDesvio

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Divã
Sou eu aqui que recolho
os cacos dos arrependimentos
de tudo que perdi
tudo que fui
tudo que fiz.

Sou eu aqui
que corro,
rodo e giro.
Para ver , pelo menos
por algum instante,
tudo diferente ao meu redor.

Sou eu aqui
que sou só sorrisos
para os de fora e
desagrados para a de dentro.

Sou eu aqui
que faço dos amanhãs
eternos recomeços.
É sempre o amanhã...

É , sou eu!

Que levanto uma mão
para a sorte e com a outra
seguro a esperança com força.
Embora tenha os olhos
e a atenção voltados
para a porta aberta
à espera da felicidade.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A idéia
A idéia era boa
tinha tudo para vingar
era tão bela
mas fugiu pela janela
precisei improvisar.

E no fim
Sobrou pra mim
aquela tristeza
de deixar poesia fugir.

Deixar poesia bela
fugir pela janela
levando
um pedaço de mim.

terça-feira, 14 de julho de 2009

º IMPROVISO

O poeta
O poeta errado
nunca amou
está ao meio
pela metade.

É o boêmio errado
não sabe o samba inteiro
volta pra casa mais cedo
precisa dormir.

Esse poeta é todo errado
coitado
frustrado

Sou eu meio de lado
quase na contra-mão.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mais um dia
Mais um dia
acorda.
Mais um café malfeito pelo sono.
E lá vamos nós,
eu e meu otimismo
cansados.
E lá vai ela,
minha esperança do sorriso
amarelo
elo.
Mais um dia tentando me encontrar,
em meio ao barulho.
Batendo a cara contra o muro.
Não há de ser em vão!
Mais um dia entre tantos outros
espero.
Mais uma saudade.
Fartura
Essa é a pior solidão!
Essa de estar cheia de espaços vazios.
Cheia de pessoas e só.
Estou cheia!
Até a inspiração me deixou.
Tenho comigo uma caneta verde e este papel
Tenho comigo algumas paixões – nem sempre recíprocas.
Tenho comigo essa idéia de solidão
e é uma certeza
e é constante.

sábado, 14 de março de 2009

Vazio
Eu não sei ao certo, mas
deve ser a ausência deles
que me deixa assim e é
quase que insuportável.
É incontrolável e triste.
A saudade e a chuva
combinam tanto que dói!
Elas podiam casar e
passar a lua-de-mel
longe, bem longe de mim!
A saudade me escolheu para ser
sua melhor amiga e nem
ao menos perguntou se eu aceitava.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Evasivo

Quando tudo isso passar,
eu só quero um amor.
Quando o dilúvio – que parece eterno - cessar,
eu vou sentir...
E eu nem peço sol,
peço silêncio,
pois a gota forte quando encontra a telha desprevenida
faz um barulho perturbador
que me desconcentra.
Pensar em tudo isso,
parece triste..
Eu deveria bastar-me!
Mas é que o tempo vai passando
e os meus olhos pequenos,
não aguentam mais o peso
da minha própria imagem.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Quebra-cabeça
A luta que mais me desgasta,
é a contra mim mesma.
Meu maior troféu será,
quando conseguir unir todas minhas faces,
diversas fases,
adversas.
Eu faço essa linha de querer me encontrar e acabo
me perdendo aqui dentro.
A ânsia de criar que junta as partes,
todas nós aqui concordamos com isso,
é o único momento.
Se pudesse definir a música da minha alma,
diria que a acho eclética, mas não sou.
Enfim, quando tudo for uma coisa só,
um som alternativo baixo e convincente,
aí farei sentido.
Enquanto isso, a criação que me cola,
real conseqüência dessa confusão,
consola e só.
º Porque a melancolia é bonita.
é tão intensa , densa ,
dança em mim e me alcança.
Me confunde e me destrói.
É, exatamente, quando me sinto viva,
quando meu sangue me parece vermelho
e a minha lágrima salgada.
A melancolia vive através de mim.