segunda-feira, 21 de março de 2011

Exaltação à Primavera

Gosto de ver o amor nascer. Como vejo o nascer do sol. Gosto de contemplá-lo, de sentir suas cores. De perceber os apetites impulsionados pelas aflições de sermos felizes imediatamente.Gosto dos sorrisos insinuando bocas. Da mudança brusca de humor que se derrama em uma forma de alegria constante. Gosto de assistir o fim também. Porque o fim tem lá sua beleza. Como o ocaso que pega de surpresa, sendo a novidade dos olhos no fim da tarde. Gosto de apreciar os silêncios que são simulacros já de todas as distâncias. Gosto de ver as mãos que embora não dadas estão lado-a-lado. Tudo reflexo do idílio final. E gosto da melancolia das sibilantes: ressaca e fossa. Gosto da inspiração do fim. Mais ainda de como ele é superado. Gosto também da Primavera.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Cantilena

Já reparou
que a dor entende muito de ser poesia,
muito mais que alegria.
Qualquer linha, letra
é lágrima grafada.
Luto encadeado em símbolo.

Já reparou
que é feliz o poeta infeliz.
Faz arte com sua tristeza.
Tira sábado da quarta-feira de cinzas.
E do escuro sua oposição luminosa.
Dá carinho à careta.
Dá Saúde no Clínicas.
Apaga o des da graça.

Confessa mais poeta!
Que sua dor
quando faz chorar outros olhos
se enfraquece em arte
e se faz berço
para você descansar menino.
Confessa mais poeta!
Que sua dor quer ser poesia
quer ganhar forma de cançãozinha.

segunda-feira, 7 de março de 2011

É coisa nossa

A noite ensolarava em sorrisos. Era Carnaval. Que no Brasil noite feliz não é Natal.
A criança que nem sabia andar, sabia sambar e depois dormia ao som da bateria.
Canção de ninar.
As baianas desfilavam seus pés cansados e a mocidade alegre observava. Eu vi.
A lantejoula é a escama da pele da passista, resultado da mistura étnica de outros carnavais.
A porta-bandeira talvez nem sabe que traz no seu corpo sua história. Eu sei.

Eles vem emoldurados todos pela sincronia desordenada de vôos finitos.
Tremor.
Vôos alçados pelos braços que portam bastões de asa e cansaços;
Tremor.
De pouso certo, inevitável à beleza.
Tremor.
Circundados pela dissonante comunhão de colisões precisas.
Tremor.
Aconchegados no seio do batuque, do truque de ser feliz.
Tremor.
Fantasiados de felicidade efêmera cujo fim aparenta não ser tom.
Tremor.
Mais bem vestidos do que antes, do que muitos dos que mentem, entre dentes pretos sujos, pros que sentem rígidos o que as gentes muitas, todas cujas asas já se acostumaram ao atrofio, já deixaram de sentir.
Um minuto de barulho pro silêncio e pra tristeza.
Tremor.

Pra você que tem o ouvido deveras refinado pouco preparado para esse som um tanto bagunçado, digo que é compreensível.
Surdo não é só um instrumento.

ºCo-autoria: Dan.
Muito obrigada meu amigo,
para você - poemista - uma flor.
http://poemismo.wordpress.com/